sexta-feira, 8 de abril de 2011

Horrorizada...

Puxa estou estarrecida com os últimos acontecimentos que assisti hoje no jornal, o massacre na escola do Rio de Janeiro! Até chorei me imaginando como mãe e professora naquela hora. Que maldade, crianças inocentes morreram com tiros na cabeça e no peito...Onde esse mundo vai parar! Da onde vem tanta maldade, como pode existir pessoas assim.

Gente..to estudando tanto, mais tanto que chega a doer os olhos, ta chegando a primeira prova, e fiz alguns outros trabalhos que também valiam nota .Cansada ... Ainda tenho as benditas "atividades complementares", semana que vem vou assistir uma palestra de "como poupar dinheiro", vai ser bom ...afinal aqui no Japão é o que precisamos aprender! E conta dez horinhas nas minhas atividades complementares...kkk

smack >>>>>>> samck


Saudades sempre de tudo e todos que mais amo e estão longee de mim....


sussu S2

Clarice Lispector- dividindo o que leio...


Ela era gorda,baixa,sardenta e de cabelos excessivamente crespos,meio arruivados.Tinha um busto enorme,enquanto nós todas ainda éramos achatadas.Como se não bastasse,enchia os dois bolsos da blusa,por cima do busto,com balas.Mas possuia o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava.E nós menos ainda:até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai.Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo,onde morávamos,com suas pontes mais do que vistas.Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".

Mas que talento tinha para a crueldade.Ela toda era pura vingança,chupando balas com barulho.Como essa menina devia nos odiar,nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas,esguias,altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo.Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhãções a que ela me submetia : continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente,informou-me que possuia " As reinações de narizinho, de Monteiro Lobato". Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o,dormindo-o.E, completamente acima de minhas posses.Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte, fui a sua casa, literalmente correndo.Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa.Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, sai devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando,que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranquilo e diabólico.No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma : o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte.Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo. Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso.Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer,às vezes adivinho.Mas, adivinhando mesmo,às vezes aceito : como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo. Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia : pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mais você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menia a porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo.Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio : a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo,disse firme e calma para a filha : você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: " e você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem. Valia mais do que me dar o livro : " pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu. Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão.Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não sai pulando como sempre.Sai andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, cumprimindo-os contra o peito.Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter.Horas depois abria-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guradara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar...Havia orgulho e pudor em mim.Eu era uma rainha delicada.


Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.


Ufaa achei que nunca ia terminar de digitar...kkk Mas espero que valha a pena, que todos que ainda não leram ou alguns que estão relendo estejam sentindo o que é o gosto pela leitura, me indentifico demais com esse texto da Clarisse Lispector.


smack>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> samck


Sussu S2